domingo, 8 de novembro de 2015

O ESTRANGEIRO

O ESTRANGEIRO
(L’ETRANGER)
ALBERT CAMUS

Albert Camus nasceu em 1913 na Argélia, filho de pai francês e mãe de origem espanhola. Um ano após seu nascimento, seu pai morre em combate durante a 1ª Guerra Mundial, na Batalha do Marne.
Com a morte do marido, sua mãe decide mudar-se com os filhos para a casa de sua avó materna, num bairro operário. Na mesma casa morava também um tio que era tanoeiro (fabricava barris para conservação de vinhos). Como todos eram pobres, Albert deveria então aprender a profissão do tio e trabalhar com ele. Mas uma professora do curso primário, percebendo que o menino era muito inteligente, insistiu com a família para que não o tirassem da escola. Quando cursava o ensino secundário, a família pressionava o jovem a largar a escola, procurar trabalho e contribuir com a família. Mais uma vez Albert foi salvo, dessa vez pelo professor Jean Grenier, que o convenceu a continuar. Assim ele se formou em Filosofia.
O professor Grenier foi homenageado por seu antigo aluno, na obra       “O Homem Revoltado”.

“O Estrangeiro” foi publicado em 1942 e já foi traduzido para mais de quarenta idiomas, além de ter sido adaptado para o cinema por Luchino Visconti, em 1967.
A primeira frase já causa um impacto no leitor:

“Hoje mamãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem”.

O protagonista e narrador é um homem chamado Meursault, que trabalha num escritório em Argel. Seus dias são uma monótona passagem de horas que ele suporta com indiferença.
Certo dia ele recebe a notícia da morte de sua mãe que vivia num asilo. Sua insensibilidade não passou despercebida. Ele não apenas permaneceu indiferente como também não se emocionou com a tristeza dos demais idosos que conviviam com sua mãe.

“O diretor do asilo pergunta se quer ver a mãe.
- Não quer?
- Não – respondi.
- Por quê?
- Não sei”

Após o enterro, ele retorna a Argel e decide sair para tomar um banho de mar. Nesse dia encontra uma antiga colega de trabalho, vão ao cinema assistir uma comédia e passam a noite juntos. Envolvem-se num relacionamento marcado pela frieza.

“Instantes depois perguntou-me se eu a amava. Respondi-lhe que isto não queria dizer nada, mas que me parecia que não. Ficou com o ar triste”.

O romance segue com descrições de outros personagens que, de uma forma ou de outra, se relacionam com Mersault. Entre eles um vizinho que explorava mulheres e que acaba sendo o responsável por envolvê-lo num crime.
Durante o julgamento, Mersault se surpreende ao ouvir a maneira como as pessoas falam dele. Sua indiferença e insensibilidade transformam-se em agentes que o condenarão.
Ainda assim, Mersault não muda seu modo de ser, o que causa uma certa aflição no leitor.
Durante seu período na prisão, ele trava duros diálogos com o capelão, chegando a se irritar com as tentativas do religioso em despertar nele a crença em Deus e na sobrevivência da alma após a morte.
O título da obra indica que o personagem sem sentimentos e sem ambições caminha pela vida como um estrangeiro na sociedade em que vive.
CONCLUSÃO: Bom, mas achei o final meio estranho, parecendo que o escritor tinha pressa em terminar o livro.





SERVIDÃO HUMANA

Título original: Of Human Bondage (1915)

Sobre o autor: William Somerset Maugham nasceu em Paris em 1874 de pais britânicos. Seu pai era advogado e no setor de assuntos jurídicos da embaixada britânica em Paris. 
Quando William tinha oito anos, sua mãe Edith Mary morre em consequência da tuberculose e seu pai morre dois anos depois, de câncer. A morte de Edith marcou profundamente a vida de Maugham, de tal forma que ele mantinha uma foto de sua mãe ao lado de sua cama até o último dia de vida.
Com a morte dos pais, o jovem foi enviado ao Reino Unido para ser criado por seu tio Henry, vigário de Whitstable, em Kent. Essa mudança foi traumática para William, tanto pelo temperamento frio e cruel do tio, como pelas humilhações sofridas na The King’s School, por ser de baixa estatura, gago e pelo seu inglês ruim, uma vez que o francês sempre foi seu primeiro idioma.
Aos dezesseis anos, Maugham avisou ao tio que se recusava definitivamente a continuar na King’s School. Então foi-lhe permitido ir para a Alemanha, onde estudou literatura, filosofia e alemão na Heidelberg University.
Ao retornar à Grã-Bretanha seu tio arrumou-lhe um trabalho num escritório de contabilidade, mas William não suportou mais que um mês nesse local. Retornou a Whitstable onde iniciou novamente a procura por um emprego. Seus irmãos mais velhos eram advogados ilustres, mas o rapaz recusou seguir o mesmo caminho. Seguir carreira na igreja se tornou impraticável devido a sua gagueira. Carreira no serviço público foi rejeitada por seu tio, pois considerava indigno de um cavaleiro qualquer função pública. Então um médico local sugeriu a William estudar medicina e ele concordou. Nos cinco anos seguintes, ele estudou medicina na Hospital St Thomas, em Lambeth, em Londres.
Os anos como estudante de medicina foram considerados por Maugham como de imenso valor em sua carreira literária: “vi homens morrerem, os vi sofrer de dor, aprendi o que era esperança e medo...” Segundo ele, conhecer pessoas das classes mais populares, que em outras profissões não teria oportunidade de conhecer, pessoas em situações de ansiedade e desesperadas em busca de ajuda, só serviram para melhorar sua percepção da realidade da vida.
Servidão Humana é classificada pelos críticos como uma das novelas mais importantes do século XX. O enredo contém muitos aspectos autobiográficos, embora o autor tenha insistido que a obra se tratava muito mais de ficção que de realidade.
Em 1938, ele escreveu: "Realidade e ficção estão tão mescladas em minha obra que agora, olhando para ela, dificilmente posso distinguir uma de outra".
Sobre o livro: Servidão Humana pertence à categoria “romance de formação”, ou seja, nele acompanharemos a trajetória do protagonista e o conjunto de experiências que irão moldar sua personalidade: conflitos familiares, traumas de infância, paixões, frustrações, ideais, perdas etc darão forma à formação de seu caráter e visão de vida.
O romance é narrado em terceira pessoa, e relata a história de Philip Carey, da infância até o início de sua vida adulta. Conforme  passamos as páginas, vamos encontrar paralelos com a vida do autor, com pequenas variantes.
Londres, 1885. Philip está com nove anos. Num dia triste e cinzento, a criada entrou no quarto do garoto e o levou para ver a mãe. Ela havia acabado de dar à luz um bebê que morreu logo após o parto e sua saúde já abalada piorou. Uma semana depois ela estava morta.
O pai de Philip era um cirurgião e havia morrido alguns meses antes. Sozinho no mundo, o menino é então levado por seu tio para uma cidadezinha chamada Blackstable, onde era o vigário local. Era um homem de cinquenta e poucos anos, casado com Louisa há trinta. Nunca tiveram filhos e ele não sabia muito bem o que era ter uma criança em casa. 
A nova vida de Philip em Blackstable obedecia às rotinas ditadas pelo tio e religiosamente seguidas por sua tia Louisa. Apesar de não entender nada de crianças, Louisa se esforça encontrar a melhor maneira de tratar Philip.

Um belo dia, os Carey resolveram manda-lo para a escola. Foi escolhida a de Tercanbury, ligada aos membros do clero e onde se procurava despertar nos meninos a ambição de seguir a carreira religiosa.
Logo no primeiro dia, o aspecto da escola assustou o menino, pois o alto muro de tijolos que circundava a escola dava-lhe um aspecto de prisão.
Esse período foi muito difícil para Philip pois ele possuía um defeito físico congênito: um de seus pés era torto e ele mancava ao andar, além de não conseguir correr nem participar dos exercícios físicos. Os outros meninos frequentemente o humilhavam e até mesmo o agrediam fisicamente. Philip tornou-se horrivelmente sensível, vivendo em geral isolado, refletindo sobre a diferença existente entre ele e os outros.
Dois anos depois, era um entre os três melhores alunos da escola. 
Aos treze anos, foi enviado para a King’s School, em Tercanbury, uma instituição que orgulhava da sua antiguidade. Seus alunos eram filhos da nobreza local e da burguesia que exercia as profissões liberais. 
Após esses anos na King’s School, Philip convence o tio a mandá-lo para a Alemanha pois o rapaz passou a ter profunda aversão à escola, tendo perdido a ambição, pouco lhe importando o sucesso ou insucesso.
Aos dezenove anos, deixou Heidelberg e retornou à casa de seus tios. Conversaram muito a respeito de seu futuro. Philip recusava-se a ir para Oxford, queria ir diretamente para Londres. Alguns dias depois, embarcou para Londres a fim de trabalhar numa empresa de contabilidade. No início, o trabalho no escritório manteve Philip interessado. Mas logo foi invadido por uma grande tristeza e sentia pela primeira vez a humilhação da pobreza, porque seu tio enviava quantias que mal bastavam para pagar o aluguel da pensão. Nunca havia se sentido tão só na vida. Para passar o tempo, fazia caricaturas dos colegas de trabalho. Um dia seu colega de trabalho perguntou: “Por que você não estudou pintura? A única desvantagem é que a profissão não dá dinheiro.”  Passou então a sonhar com a possibilidade e, um belo dia, pediu demissão.
Após uma desagradável discussão com o tio, parte para Paris. Matriculou-se numa escola de arte, onde concluiu que nunca deixaria de ser um artista medíocre.
E assim, praticamente sem dinheiro e com seu pé equino, retornou a Londres para iniciar a vida pela terceira vez. Na falta de opção melhor, decide seguir a profissão de seu falecido pai e matricula-se na escola de medicina.
Foi por essa época que se apaixonou por Mildred Rogers, uma moça que trabalhava numa casa de chá. Ao ouvir seu nome pela primeira vez, Philip pensou: “Que nome detestável”.
Mildred era vulgar, apresentava uma magreza e palidez doentias. Ela se irritava facilmente e não era capaz de dizer uma palavra amável. Mas apesar de todos os defeitos, Philip descobriu que estava totalmente apaixonado por ela. No entanto, a moça o desprezava e finalmente acabou por casar-se com um alemão.
Essa relação masoquista com Mildred acompanhará Philip por muito tempo, bem como o desprezo que ela sente por ele. Há muitos pontos de coincidência entre a vida do autor e a história de vida de seu personagem, mas não há nada que se assemelhe à dependência doentia de Philip a Mildred. Ela não possui nenhuma atrativo físico, ao contrário, é descrita como muito magra, pálida, seios pequenos e quadril estreito, um tipo físico andrógino até mesmo um pouco masculino. Alguns estudiosos chegaram a interpretar esse caso como a expressão disfarçada da homossexualidade do autor e uma relação com um dos amigos nos anos de juventude.
À medida que os anos vão passando, Philip passa por diversas provações as quais o levam a um progressivo amadurecimento e autoconfiança.
A mensagem do romance é otimista, com a vitória sobre o abismo moral que ameaçou levar o personagem à miséria e a idéias suicidas.
Conclusão: muito bom.






GUIA POLITICAMENTE INCORRETO DA FILOSOFIA

GUIA POLITICAMENTE INCORRETO DA FILOSOFIA
(Luiz Felipe Pondé)

SOBRE O AUTOR: filósofo e escritor brasileiro, nascido em Recife em 1959.

 Esse é o terceiro volume da série Politicamente Incorreto. Segundo o autor, não se trata de um livro sobre a história da filosofia, mas um ensaio sobre filosofia do cotidiano em que a intenção é “ser desagradável para um tipo específico de pessoa...esse tipo que vive numa bolha de consciência social...sendo politicamente correto (PC) ”.
O texto mostra como o PC se transformou numa praga em nossos dias, resultado da preocupação com a imagem, da falta de informação e de atitudes covardes.
O livro foi dividido em capítulos temáticos, todos interessantes e provocadores. Meus preferidos são:
·       A DEMOCRACIA, sua sensibilidade e seus idiotas:
“ A tentativa de definir a democracia como regime de direitos é ridícula porque não existem direitos sem deveres”
·       O OUTRO:
“Está na moda dizer que o ‘outro’ é lindo. Mentira. Quando o ‘outro’ não cria problema, não há nenhum valor ético supremo em tolerá-lo. E, quando cria, quase sempre ninguém o tolera”.
·       RELIGIÕES, fundamentalismos e budismo light:
“Deus deve estar profundamente deprimido com o mercado religioso. E não só ele, mas também Buda e similares”.
·       NATUREZA HUMANA e felicidade:
“Só alguém cego não vê que não ‘estamos com essa bola toda’. Se você quiser acertar numa análise que envolva seres humanos, continue a usar o pecado como ferramenta para compreender o comportamento humano: orgulho, ganância, inveja e sexo continuam a mover o mundo”.
·       A NOVA HIPOCRISIA SOCIAL:
“O novo hipócrita social pensa que não esconde nenhum monstro dentro de si”.
·       CANALHAS cheios de amor:
“Nada mais chato do que o medo de não agradar. Não querer agradar é uma das maiores formas de libertação num mundo em que somos obrigados a amar tudo a nossa volta”.
Pelos trechos acima pode-se ter uma ideia de como o autor não teme contestar várias linhas do pensamento PC e é isso que torna o livro muito interessante. É um texto leve e de fácil compreensão. Digo isso porque muitas pessoas podem pensar que esse tipo de leitura é chato ou incompreensível. Não é o caso.
Além disso, pode ser um estímulo para novas formas de enxergar o “comércio de ideias” que nos alcança através das revistas, jornais, escolas e TV.

CONCLUSÃO: Muito bom

“Ao final, a praga PC é apenas mais uma forma enraivecida de recusar a idade adulta e de aniquilar a inteligência”.


1984

1984
Autor: George Orwell, pseudônimo de Eric Arthur Blair, escritor e jornalista inglês.
Nascido em 1903 em Motihari, na índia Britânica, numa família aristocrata. Seu pai trabalhava no Departamento de ópio do Serviço Civil indiano. Foi levado por sua mãe para viver na Inglaterra quando completou 1 ano de idade.
Inicialmente era adepto das ideias do comunismo, mas mostrou-se decepcionado quando tomou conhecimento das atrocidades e da falta de liberdade dos países comunistas. O livro “1984” é uma crítica aos regimes totalitários. Na obra, ele retratava um mundo fictício, no qual, o personagem Winston Smith era o único que preservava um senso de liberdade interior.
Morreu de tuberculose aos 46 anos.

Publicado em 1949, sete meses antes da morte do autor, o livro foi um verdadeiro sucesso. A história se passa no ano de 1984, na cidade de Londres, na Oceania, uma superpotência controlada por um Partido, que por sua vez é comandado por seu líder, o Grande Irmão.
Nesse Estado a única lei é: a obediência absoluta, nas ações e nos pensamentos.
A sociedade em Oceania é dividida em 3 camadas: o Núcleo do Partido ( o poder maior), o Partido Externo (subalterno ao Núcleo) e a massa indistinta, chamada “proletas”.
Nosso herói chama-se Winston Smith, que está mais para um anti-herói. Ele tem 39 anos, solitário, tem uma úlcera varicosa e trabalha no Ministério da Verdade como falsificador de registros. Apesar de viver sob a pressão do sistema, Winston secretamente reage contra ele. Ele carrega em si uma raiva contra todos que controlam sua vida, mas é uma espécie de sentimento impotente que não se converte em ação efetiva.
No segundo parágrafo do primeiro capítulo, Orwell nos descreve o Grande Irmão: “o rosto de um homem de uns quarenta e cinco anos, de bigodão preto e feições rudemente agradáveis.” Não há como evitar a comparação com Stalin. E essa imagem se repetia em vários locais, onde quer que se fosse era inevitável sentir-se observado por esses olhos, acompanhados do letreiro: O GRANDE IRMÃO ESTÁ DE OLHO EM VOCÊ.
Um dia, Winston toma uma atitude que certamente lhe trará problemas: ele resolve começar um diário. Porque pior que as patrulhas era a Polícia das Ideias. Ele previa que seria punido com a morte ou, na melhor hipótese, com vinte e cinco anos de prisão em alguma campo de trabalhos forçados. Mas apesar de todo risco e perigo, ele queria muito escrever aquele diário, para o futuro, para os que ainda estavam por nascer.
Havia um ritual chamado Dois Minutos de Ódio: todos se reuniam, geralmente no trabalho, diante de uma teletela. O rosto de Emmanuel Goldstein, o Inimigo do Povo, surgia na tela e o Ódio começava.
Goldstein era uma figura destacada no Partido, quase no mesmo nível do Grande Irmão. Numa data não determinada passou a se entregar a atividades contrarrevolucionárias, atacando o Grande Irmão e denunciando a ditadura do Partido. Foi condenado à morte mas misteriosamente desapareceu no mundo (qualquer semelhança com Trotsky pode não ser mera coincidência).
Diante do rosto de Goldstein, as pessoas manifestavam-se com xingamentos cheios de fúria, pulavam, gritavam e atiravam objetos contra a tela, num total desvario.
Certo dia, ele é abordado por uma moça chamada Júlia, que reconhece nele uma afinidade de espírito. Os dois acabam se apaixonando. Uma característica de Júlia é o seu total desinteresse por política.
Após alguns meses, entram em contato com O’Brien, um membro do Núcleo do Partido, que supostamente lidera um grupo de oposição chamado Confraria.  Num encontro com O’Brien, Winston recebe um exemplar do Livro de Goldstein, o único exemplar.
Sozinho, enquanto aguardava a chegada de Júlia, Winston começa a ler o Livro de Goldstein, em que o autor faz um relato sobre a História do mundo após as guerras mundiais, a divisão do mundo em três grandes superestados que estão sempre em guerra e sobre a estrutura do Partido, sua filosofia e seus métodos de ação.
Winston fica fascinado com o livro, apesar de não lhe dizer nada de novo. Na verdade, o livro dizia o que ele mesmo teria dito se tivesse a capacidade de organizar seus pensamentos. “Os melhores livros, compreendeu, são aqueles que lhe dizem o que você já sabe.”
Depois de ler o livro, ainda antes do último capítulo, entendeu claramente que não estava louco, que o fato de ser uma minoria, mesmo uma minoria de um, não significava que fosse louco.
CONCLUSÃO: muito bom, imperdível;





A BALADA DE ADAM HENRY

A BALADA DE ADAM HENRY
(The Children Act)
AUTOR: Ian McEwan (Inglaterra, 1948).
A história se passa em Londres, nos dias atuais e acompanha uma fase específica na vida da juíza Fiona Maye, da Vara de Família, 59 anos, casada com Jack, de 61 anos, professor de história antiga.
Já no primeiro capítulo, Fiona tem uma discussão com o marido. Pela primeira vez em anos, ela tinha gritado com ele e o chamou de idiota e, após o insulto, gritou:
“Como você ousa me dizer isso?”
O que deixou Fiona transtornada foi uma declaração de Jack:
“Eu preciso. Tenho cinquenta e nove anos. É minha última chance”.
A verdade é que Jack queria viver um caso extraconjugal, mas não queria o divórcio. Ao contrário, queria que tudo ficasse igual.
“Eu te amo, mas antes de morrer quero viver uma grande paixão”.
Fiona já sabia o nome da outra mulher: Melanie, especialista em estatística de vinte e oito anos.
“Um nome bem próximo de um tipo fatal de câncer de pele”.
Fiona deixou bem claro que não concordaria com isso, em hipótese alguma.
Diante disso Jack arrumou as malas e saiu de casa.
O que mais magoou Fiona foi concluir que Jack estava preparado para pagar por seus prazeres com a infelicidade dela.
E é nesse estado de espírito que a juíza acorda no dia seguinte e tenta seguir sua rotina.
“Nada como uma tempestade doméstica para arrancar alguém da cama”.
Entre vários casos envolvendo pais e filhos, seu auxiliar traz o pedido de um hospital para fazer uma transfusão de sangue em um rapaz de dezessete anos que sofria de uma forma rara de leucemia.
Seus pais e o próprio rapaz se recusavam a aceitar esse tratamento por convicções religiosas: eles eram Testemunhas de Jeová. Segundo sua crença, não poderiam aceitar produtos derivados de sangue em seus corpos.
Adam Henry, filho único, há três meses de completar dezoito anos, teria o direito de tomar essa grave decisão?
Até que ponto estaria sendo influenciado pelos pais e líderes de sua comunidade religiosa?
Segundo o depoimento do hematologista, Adam Henry teria uma chance de sobrevivência caso as transfusões fossem feitas o mais rápido possível. Do contrário, a morte horrível seria a única coisa certa.
Segundo o médico, as opiniões de Adam são as de seus pais, não dele.
Antes de proferir sua sentença, Fiona decide que gostaria de ouvir Adam Henry, conversar pessoalmente com o rapaz e vai até o hospital.
Após esse encontro desenvolve-se uma relação complicada entre os dois personagens, algo como um afeto maternal-filial com um clima sexual pairando no ar.
Não é nenhum livro excepcional mas traz à tona alguns temas interessantes: a passagem do tempo, dilemas morais, religião e ciência.
Conclusão: bom







A MÁGICA DA ARRUMAÇÃO

A MÁGICA DA ARRUMAÇÃO
(Jinsei Ga Tokimeku Katazuke No Maho)
Marie Kondo
SOBRE A AUTORA: Marie Kondo nasceu no Japão, é consultora, palestrante e autora de livros sobre organização e arrumação. Tem vários vídeos no You Tube e participa com frequência de programas de TV.
SOBRE O LIVRO: Em cinco capítulos, Marie Kondo apresenta seu método de organização doméstica, que consiste em duas atitudes básicas: descarte e organização.
“...quando você põe a casa em ordem, também organiza suas questões e seu passado. A consequência é que você passa a distinguir com mais clareza o que é essencial e o que é inútil, assim como o que deve e o que não deve fazer”
Fácil e simples? Pode ser para algumas pessoas. E o que fazer contra a resistência da família? Moleza: Não deixe sua família ver.
Gostei do método Marie Kondo. Agora só é preciso encomendar uma caçamba, providenciar muitos sacos de lixo, pegar cada objeto da casa e perguntar se ele me traz alegria, despistar o marido e ser feliz.
Devemos começar pelas roupas. Em seguida, livros, documentos e contas e, por fim, artigos de valor sentimental. E deve-se arrumar tudo de uma vez, nada de organizar um pouco todo dia.
“Arrume um pouco a cada dia e acabará fazendo isso para sempre”
CONCLUSÃO: Interessante pela abordagem diferente de tudo que li sobre o assunto. O texto é leve e não cansa. Recomendo.

“A melhor maneira de fazer a triagem do que fica e do que sai é segurar cada item e indagar: Isso me traz alegria? ”

RATOS E HOMENS



RATOS E HOMENS
(OF MICE AND MEN)
JOHN STEINBECK
John Steinbeck nasceu em Salinas, no estado da Califórnia, nos Estados Unidos, em 1902, numa família de classe média baixa.  A cidade de Salinas estava numa região agrícola e serviu de pano de fundo para muitas de suas obras de ficção.
Ingressou na Universidade Stanford em 1919, onde frequentou as aulas de Inglês e Literatura, mas abandonou os estudos antes de obter o diploma, em 1925. Decidido a lançar-se na carreira de escritor, mudou-se para Nova York e trabalhou fazendo bicos como zelador, pedreiro, técnico de laboratório e repórter.
Só obteve sucesso e segurança financeira em 1935, com a publicação do romance Tortilla Flat (Boêmios Errantes).
A tônica de suas obras é a observação das camadas de trabalhadores de classe baixa, que ficam à margem do sistema econômico e sua luta pela sobrevivência, suas dificuldades e a sensação de solidão que toma conta de suas vidas. De certa forma, situações a que todo ser humano está sujeito, não importa qual seja sua posição na sociedade.
Na década de 30 ainda publicou Dubious Battle (Luta Incerta), sobre colhedores de frutas na Califórnia; Of Mice and Men e aquele que é considerado seu melhor romance, The Grapes of Wrath (As Vinhas da Ira), pelo qual foi premiado com o Prêmio Pulitzer de Literatura.
Faleceu no dia 20 de dezembro de 1968 em Nova York.
Ratos e Homens conta a história de dois amigos, George e Lennie, muito diferentes não só no aspecto físico como emocionalmente. George é franzino e baixo, mas muito esperto e sensato. Lennie é forte e grandalhão como uma fortaleza, mentalmente perturbado, sua inteligência equivalente à de uma criança. Lennie depende de George como protetor e líder. Ambos são trabalhadores em fazendas da Califórnia, não têm nada na vida e o que os une é a amizade desde a infância e o fato de estarem na mesma situação miserável, sempre atrás de onde há trabalho. Eles têm um sonho: ter sua pequena propriedade.
A realização desse sonho vai ficando cada vez mais distante, pois a economia americana está no período de recessão da década de 30, eles praticamente trabalham por comida e moradia e não é fácil ser amigo e responsável por um sujeito como Lennie.
Todos os personagens são cativantes, parecem reais até mesmo pelos diálogos, no quais o autor os faz usar um linguajar cheio de erros. Até o filho do dono da fazenda, fala com os mesmos erros de seus empregados. Ler esses diálogos chega a ser angustiante em algumas passagens, mas torna os personagens mais aceitáveis.
O livro se passa basicamente no universo dos empregados, quase todo dentro do galpão onde dormem. No entanto, o leitor não se sente entediado pois ele estará diante de criaturas que carregam as angústias mais corriqueiras: desamparo, solidão, ganância, ciúme e tudo que é comum a todos nós. A história nos fala sobre a amizade e como pode ser difícil mantê-la num mundo em que impera a crueldade.
O título do livro foi inspirado no poeta escocês Robert Burns (1759 – 1796) dando um indício do caráter trágico do enredo:

“Os projetos melhor elaborados,
sejam de ratos ou sejam de homens,
fracassam muitas vezes e nos fornecem só tristeza e sofrimento,
em vez do prêmio prometido. ”

CONCLUSÃO: Muito bom.



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